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“O cuidado é político”, confira a entrevista com o psicólogo Bruno Chapadeiro

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10 de outubro é o Dia Internacional da Saúde Mental, um dos principais temas abordados no XVII Congresso do SindisprevRS. Em alusão à data, publicamos a entrevista realizada pela Imprensa do sindicato com o psicólogo Bruno Chapadeiro, um dos convidados que falou sobre o assunto no evento.

 

Imprensa: O Brasil é o país mais ansioso do mundo e o 5º maior em casos de depressão. Que característica do país contribui para esse cenário? 

Bruno: Eu diria que são várias. Tem muito a ver com o nosso processo social-histórico, porque a América Latina como um todo passa por isso, está muito ligado à nossa desigualdade social e econômica. Por exemplo, durante a pandemia nem todo mundo conseguiu cumprir o “fique em casa” ou teve sua renda garantida. Tudo isso gera muita insegurança. Muita gente foi demitida. Temos mais de 30 milhões de pessoas em insegurança alimentar. Tudo isso são fatores que confluem para ampliar os níveis de ansiedade e de depressão. 

Então é isso, a gente vai deixando as pessoas à míngua em relação à fome, à miséria, à falta de emprego, de políticas sociais, de aposentadoria. E a gente ainda quer que todo mundo fique bem. É muito difícil, não é?

 

Imprensa: E sobre o cuidado, ele pode ser coletivo para lidar com essa situação?

Bruno: É importante as pessoas terem o seu momento numa psicoterapia, por exemplo, ou o cuidado ligado a serviços assistenciais. Muitos se apegam à religião, ou à própria família e amigos. Tudo isso é muito importante. Mas é a força coletiva que faz com que a gente garanta o cuidado. 

Por exemplo, todas essas violências são geralmente sofridas em nível individual. E a pessoa se sente humilhada a partir de tudo isso. Quando ela vê que mais pessoas estão passando por isso, ganha-se uma força. E aí esse cuidado pode ser mais robusto. 

As nossas saídas individuais não estão dando certo, estão sendo pela via da medicalização. Hoje, pelo medo do desemprego, da perda de um cargo ou rendimento, as pessoas estão se fazendo presente no trabalho mesmo adoecidas, à base de algum remédio ou mesmo drogas como café e energético. É o que a gente está chamando de presenteísmo. Não existe a via do cuidado, de olhar para isso em uma integralidade. 

Então o coletivo garante mais força. Tanto com o cuidado primário, em termos de acolhimento, mas também com o levantamento de pautas políticas. Porque dali pode surgir uma compreensão sobre tudo o que está se passando e a influência no processo de adoecimento. E a pessoa consegue vislumbrar horizontes de uma transformação política e que se dá no nível coletivo. Então o cuidado é político.

 

 

“Há muitas maneiras de matar uma pessoa

Cravando um punhal, tirando o pão, 

não tratando sua doença, condenando à miséria,

fazendo trabalhar até arrebentar,

impelindo ao suicídio, enviando pra guerra e etc.

Só a primeira é proibida pro nosso Estado.” (Bertold Brecht)

 

 

 

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